Revelações de Jonas, Missão: Prévia da Missão, Solidão

Revelações de Jonas: Missão
Prévia da Missão
Solidão


Realmente aquele era um dia diferente para o casal de namorados. Primeiro eles haviam acabado de sair de um médico que informavam que clinicamente o Fernando continuava morto, mas andava e falava como qualquer pessoa viva. Até exames estranhos do cérebro de Fernando foram mostrados. Depois, quando decidiram ir lanchar no Mc Donald’s tiveram que ceder o lugar deles na fila para um bando de velinhos famintos, por educação. Agora, quando finalmente estavam sendo atendidos, três santanas negros estacionaram em frente do restaurante e

Renato e Fernando estavam comendo um lanche do Mc Donald’s quando Fernando sentiu um estalo na cabeça e em seguida uma sensação profunda de pavor. Para disfarçar sua sensação e não fazer Renato desconfiar de sua sanidade, ainda mais depois dos estranhos exames vistos naquele dia, Fernando concluiu que deveria disfarçar sua preocupação imediata de alguma forma. O problema era que algo dizia a Fernando que não tinham tempo de sair do restaurante, tinham que providenciar uma alternativa. Fernando olhou para a porta do banheiro, próxima deles, e imediatamente percebeu que sua salvação estaria dentro daquele lugar.

– Rê... Sabe de uma coisa que sinto falta? – Falou Fernando, com malícia.

– Do que, Fê? – Perguntou Renato, estranhando a súbita mudança de humor de Fernando.

– Do perigo... Estava olhando para esse banheiro e pensei, “por quê não?”, entendeu... – Fernando sorriu e beijou a mão de Renato.


Renato não entendeu nada das intenções de Fernando, mas a proposta lhe atraiu. Imediatamente terminou de engolir seu lanche e deixou-se levar por Fernando para o banheiro. Assim que entraram no banheiro, Fernando escolheu como ninho de amor dos dois o local mais afastado da porta do banheiro. Renato novamente estranhou a atitude e estranhou mais ainda quando Fernando ao invés de começar as carícias começou a olhar preocupado para a porta.

– O que quer que esteja pensando, diz logo... – Afirmou Renato.


A resposta veio na forma de gritos de pavor vindos do restaurante. Renato tentou se deslocar para a porta procurando pela razão dos gritos, mas Fernando o segurou forte, o puxou pra dentro da cabine e fechou a porta. Em menos de um segundo começaram a escutar sons de tiros que pareciam intermináveis e mais gritos, e no final escutaram um estrondo imenso e tudo tremeu, caindo muita poeira em cima dos dois. De repente uma fumaça branca começou a entrar pela porta e Fernando puxou Renato para fora apressado. “É gás lacrimogêneo!”, berrou enquanto corria para a porta.

Renato a princípio estranhou a atitude do namorado, mas optou por segui-lo, dado que sua ultima previsão aparentemente lhes salvara a vida. Ao saírem do banheiro, Renato e Fernando viram a cena mais horrenda da vida deles. Apesar de toda a fumaça e da dor nos olhos, eles conseguiam ver um amontoado de corpos todos dilacerados por balas, sem nenhum sobrevivente aparente. Fernando e Renato saíram correndo do Mc Donald’s sem olhar para trás, ao mesmo tempo em que uma multidão de curiosos se aglomerava em volta para ver o que acontecera.

Chegaram em casa imundos e completamente exaustos, dado que correram toda a distância entre a Rua Siqueira Campos e o Mc Donald’s em pouco menos de cinco minutos. Assim que Fernando abriu a porta, ele levou um susto, uma enorme sombra negra estava prostrada na parede da sala. Renato, sem ver nada, cutucou Fernando e perguntou a ele o que estava vendo de tão apavorante. “Uma enorme sombra, na parede da sala...”, balbuciou Fernando, em choque e ao mesmo tempo não tinha nenhum medo dela, parecia até mesmo querer falar com ela. Renato, para comprovar que nada existia naquele lugar foi até a parede e a socou, mas quando fez isso sentiu um calafrio completamente desconfortante lhe percorrer a espinha.

– Eu acho que realmente tem alguma coisa aqui... – Indagou Renato, esperando uma resposta de Fernando.

– Eu tenho certeza... – Afirmou Fernando.


De repente a sombra se mexeu e levantou com elas muitas revistas e jornais, que ao cair no chão colocaram-se em cima uns dos outros formando com seus títulos a palavra “Jonas”. Renato e Fernando se abraçaram apavorados e correram para o quarto, se jogando embaixo das cobertas. A sombra aparentemente desapareceu e depois de quinze minutos de medo, provavelmente maior por causa do ocorrido uma hora antes, ambos se acalmaram e voltaram a ponderar melhor.

– Dessa vez sua loucura me afetou, Fernando... Precisamos dar um jeito nisso urgentemente! – Disse Renato, saindo da coberta. – Eu realmente fiquei apavorado.

– E eu? – Afirmou Fernando. – Quando vi a coisa preta fiquei gelado... E meu medo ficou maior porque tive a impressão de conhecê-la.

– Heim?

– É, tive a impressão de saber quem é isso... Mas não consigo acessar essa informação... As vezes acho que o que aconteceu comigo tem a ver com isso tudo.

– Tomara que não... Bem, vou tomar banho, se quiser se juntar comigo depois, ótimo, se não, espera aí... Se der vou queimar essas roupas hoje! Estou um caco!


Renato se levantou da cama e foi direto para o banheiro. Despiu-se, ligou o gás e começou a banhar-se. Enquanto se banhava teve a nítida impressão de estar sendo observado, mas preferiu ignorar a sensação e dar prosseguimento a sua limpeza física e mental. A imagem de todos aqueles corpos era horrível. Já tinha visto corpos antes na internet, mas ao vivo era algo completamente diferente, desejava esquecer isso o quanto antes. O banho durou pelo menos uma hora, nas quais Fernando ficou no quarto assistindo televisão para relaxar ao invés de se banhar com o namorado. Renato sentiu falta disso, mas preferiu ficar calado pois Fernando já tivera muitos problemas naquele dia, e desejava poupá-lo de discussões amorosas.

– Se quiser tomar banho, o banheiro está livre... Deixei a água quente ligada. – Avisou Renato, entrando nu no quarto e estranhando que Fernando estava desviando o olhar para ele. – O que há contigo Fê? Está com nojo de me ver nu?

– Não sei... Sinto algo estranho, mas não sei o que é...


Fernando se levantou e foi tomar banho, deixando Renato sozinho no quarto com a televisão ligada. No fundo Renato sabia que havia algo estranho em Fernando, desde que retornara do hospital os dois, como casal, estavam ficando mais e mais distantes. Fernando passava o dia inteiro lendo jornais e se informando das coisas que acontecia no mundo. Normal, mas Fernando odiava jornais, ele detestava ler essas coisas, apenas Renato gostava. Um determinado dia pegara Fernando assistindo filmes para homens heterossexuais, e nitidamente se excitando com isso. Todo esse comportamento era diferente demais do Fernando por quem Renato se apaixonara, parecia realmente outra pessoa. As memórias e o corpo eram o mesmo, mas de sua mente cada vez menos haviam resquícios. De repente Fernando chama Renato nervoso no banheiro e Renato corre pra ver o que acontece.


Vamos, o que espera?


– Renato, que brincadeira é essa aqui? – Berra Fernando, irritado.

– Eu não fiz nada disso! – Responde Renato. – Quer saber, estou ficando de saco cheio disso tudo...

Renato sai revoltado do banheiro, irritado demais com Fernando, veste-se rápido e quando está na porta de saída sente algo estranho, como se estivesse sendo observado. Ele olha para os lados procurando por Fernando, mas ele está no banheiro ainda. “Merda, quem está aí! Apareça!”, berra Renato, sem obter resposta. Renato começa a girar a chave e de repente sente um tapa na mão, e se afasta da porta assustado. A televisão liga sozinha em um canal onde um apresentador diz no volume mais alto, “Ninguém sai daqui...”, e em seguida a função “mute” se ativa. Fernando chega apavorado e desliga a televisão, vendo que Renato está sentado no chão próximo à porta aparentemente em choque. Dois tapas no rosto são suficientes para Renato despertar. Ele agarra os braços de Fernando e diz que vai chamar o porteiro Severino, porque está tudo louco demais, abre a porta e corre para o térreo, deixando Fernando sozinho no apartamento.

Cinco minutos depois, que parecem horas para Fernando, seu namorado volta, trazendo consigo o porteiro do prédio. O porteiro olha para os lados, e fica em silêncio longos minutos ponderando. Então a televisão novamente liga sozinha, assustando a todos menos o porteiro, que escuta o apresentador dizer “fale logo”, para em seguida emudecer novamente. O porteiro olha para os rapazes com um olhar sério e começa a falar:

– Jonas, você me dá muito trabalho... – Diz o porteiro, com um tom de voz sombrio e sem nenhum sotaque nordestino.

Fernando e Renato levam um susto absurdo, mas não tem tempo de perguntar nada, pois em seguida o porteiro cai no chão desacordado. Auxiliado pelos rapazes ele é colocado no sofá da sala e Renato trás para ele um copo de água. O porteiro bebe a água rápido e volta a falar, dessa vez com seu sotaque tradicional:

– Desculpem, meninos... Desmaiei sem querer quando cheguei. – Disse Severino.

– Quem é Jonas? – Pergunta Fernando.

– Ó Xente! Quem? – Indaga o porteiro, estranhando os olhares dos dois rapazes.

– Você acabou de dizer esse nome. – Explica Renato. – E porque nunca nos disse que perdeu o sotaque?

– Vocês são tantãs? – Assombra-se Severino, sem entender nada do que falam. – Renato, o sinhô foi lá embaixo me procurando desesperado porque deu a entender que o capeta tava aqui, e quando cheguei desmaiei e acordei aqui... Suncês tão usando droga? Desculpa pelo desmaio, mas tenho que trabalhar... Não tem nada aqui, só essa televisão ligada sem som.


Severino se levantou e foi embora do apartamento, julgando que os dois rapazes estivessem bêbados ou algo do tipo. Renato e Fernando se encararam silenciosos por alguns segundos, até Renato propor a Fernando que procurassem a ajuda de alguma pessoa entendida nesses troços. Fernando concordou e foi até o quarto se vestir, pois somente naquele momento notara que recebera o porteiro de cuecas. Renato teve então uma idéia e colocou sobre a mesa um caderno e uma caneta azul. Fernando voltou e encontrou Renato sentado na mesa, sério, que apontou para o material sobre a mesa. “Fernando, senta aqui e escreve...”, disse Renato, dando uma ordem que Fernando subitamente sentiu-se compelido a cumprir. Fernando sentou, pegou o papel a caneta e começou a escrever aleatoriamente. De repente sua mão foi tomada por alguma força estranha e ele virou a página do caderno e escreveu três grupos numéricos separados por traços. Ambos não compreenderam absolutamente nada do que estava escrito, exceto a continuidade do prazo. Renato já está completamente certo que Fernando enlouquecera por causa da falta de oxigênio, e que essa insanidade começava a afetá-lo. Por outro lado, sentia-se compelido a continuar, pois no seu íntimo algo lhe dizia que toda aquele loucura tinha muito mais sanidade do que Renato julgava.


Simpático, muito simpático...


– Fernando, estou ficando cansado disso, o estimulei até agora, mas já está chegando ao limite... – Sentenciou Renato.

– E o que quer que eu faça? – Perguntou Fernando, arrancando a folha do caderno e a jogando no lixo.

– Pra começar, volte ao normal, você está ficando uma bicha louca! – Bradou Renato, levantando-se da mesa e indo até a janela da sala. – Essa sua crise pós-milagre está me enlouquecendo também... Se continuar assim eu irei embora.

– Faça como quiser. – Respondeu Fernando, estranhando até mesmo sua reação. – Também estou de saco cheio disso tudo, você acha que eu realmente estou fazendo tudo isso de brincadeira? Vai tomar no cu, ache o que quiser... To me fudendo pro que você pensa ou deixa de pensar, só quero resolver essa porra.


Fernando se levantou mais nervoso ainda que Renato e saiu do apartamento completamente descontrolado. Dentro de si era inconcebível que Renato não estivesse do seu lado, ainda mais que algo no prazo dado pelo “risco” lhe parecia extremamente preocupante. Ele sentia-se a cada minuto que passava mais e mais compelido a procurar por alguma resposta a essas duas cartas misteriosas e, principalmente, em saber quem seria esse tal de Jonas de quem toda hora ouvia ou dizia sobre, e que cada vez que pronunciava o nome, sentia-me mais íntimo desse troço.

Enquanto caminhava não se dera conta que estava se aproximando da Praça Serzedelo Correia, conhecida entre seus habitantes como a “Praça dos Paraíbas”. Já com menos raiva, mas ainda assim chateado com Renato, Fernando entrou na Igreja Nossa Senhora de Copacabana, procurando sentar para procurar nos céus um pouco de paz que não estava sentindo há muito tempo. Fernando sentou-se na penúltima fileira dos bancos da igreja, na ponta esquerda. Reparou que ainda estava todo sujo da poeira que a explosão do Mac Donald’s levantara horas antes, e bateu um pouco nas roupas para tirar o excesso e deixar de parecer ser um mendigo.

Lembrou-se então de quando tinha dezoito anos e contou a seus pais sobre sua opção sexual. Cada uma das palavras duras de seu pai doeram na mente de Fernando, quando este lamentava profundamente por nunca ter sido pai novamente e que jamais poderia ser avô. Fernando tentou argumentar, mas seu pai foi completamente avesso a escutá-lo e sua única atitude foi colocar quarenta mil reais na mão de Fernando e tocá-lo para fora de casa. Sua mãe foi absolutamente contra, mas nada pôde fazer contra a vontade de ferro dele. A Fernando somente restou sobreviver montando uma pequena loja de artigos esportivos, da qual até hoje tira seu sustento. Fernando conhecera Renato durante um evento de donos de lojas esportivas, e se tornaram amigos. Demorou seis meses para Fernando e Renato revelarem um ao outro o que sentiam um pelo outro, e para então alugarem juntos o apartamento da Siqueira Campos e lá viveram pelos últimos quatro anos.

De repente, um senhor de aparentemente setenta anos vestindo um terno branco, sentou-se ao lado esquerdo de Fernando. Ele ajoelhou-se para rezar um pouco, sem nenhuma dificuldade e ali permaneceu em silêncio. Fernando apesar de ter percebido a súbita aproximação do senhor, não deu muita importância e continuou envolto em seus pensamentos. O velho passado cinco minutos, levantou-se e sentou ao lado de Fernando, próximo o suficiente para que Fernando sentisse um frio na espinha ao olhá-lo com o canto do olho.

– Ainda não entendo o que Adalberto viu em você... – Balbuciou o velho, exalando um bafo estranho, que lembrava pano velho mofado.

– Quem? – A menção desse nome causou uma estranheza em Fernando e uma tristeza profunda.

– Adalberto, não finja que não se lembra dele, ele foi dissipado por sua causa. – Continuou o velho, sem se alterar. Nesse momento Fernando se virou completamente para o senhor e levou um susto, o velho não tinha olhos, apenas suas órbitas vazias de onde saíam vermes que percorriam seu corpo.

– O que é você? – Espantou-se Fernando, dando um salto do banco.


Fernando não obteve resposta, o velho simplesmente se dissipou como poeira e desapareceu. Muitas pessoas, entre turistas e fiéis, olhavam assustados para o jovem negro que do nada saltara do banco e berrara com o vazio. Um segurança, ou algo do tipo, se aproximou de Fernando e solicitou-o que saísse do recinto, por estar atrapalhando. Fernando pediu desculpas e saiu da igreja o mais rápido que podia. Estava tão assustado quanto envergonhado, não bastavam as coisas estranhas em sua casa, agora via e conversava com coisas. “Tenho que dar razão a Renato, estou louco...”, indagava enquanto voltava para casa. Ao entrar Fernando sentiu-se só. Não por nenhum motivo bizarro, mas somente porque Renato não estava mais lá e em cima da mesa da sala repousava um bilhete escrito no mesmo caderno que causara toda a discussão. Fernando leu o bilhete duas vezes, sentou-se no sofá e chorou. Muito.


Despedida.


A noite chegou rápido naquele dia. O cheiro do sucesso só não era maior que o forte odor de sexo daquele quarto amplo no Leblon. O corpo quente de Regina ainda repousava completamente nua debaixo dos edredons, suspirando de prazer. Albano estava de pé, na janela, limpando uma de suas Magnum 608 enquanto admirava sua amante repousar serena.Havia algo de errado naquele dia, em algum momento durante o massacre que promovera naquele restaurante. Albano podia sentir que Tirolez cometera algum erro, e tinha a certeza que confiara demais em suas armas. “Nunca saia de um lugar sem antes ter certeza que todos morreram”, pensava enquanto lentamente Regina voltava a consciência e se espreguiçava com um sorriso completamente erótico nos lábios.

– Vamos continuar a comemoração... – Disse Regina, levantando-se da cama e deixando o edredom cair no chão, exibindo seus fartos seios e seu quadril perfeito.

Um comentário:

  1. temos que ver outro dia para o pessoal ir para Paqueta em =)

    sei que escrever não deve ser fácil mas coloca logo o começo ca missão que eu to curioso XP

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